Cerca de 10% a 20% dos adolescentes de 10 a 19 anos enfrentam problemas de saúde mental, segundo estimativas da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). A médica psiquiatra Lívia Beraldo de Lima, do Hospital Sírio-Libanês, afirma que são múltiplos os fatores que determinam a saúde mental dos adolescentes. Entre eles, o desejo de maior autonomia, a pressão para se adequar ao grupo social, o contato com a sexualidade e o descobrimento da identidade sexual, além do maior acesso e uso de tecnologias. “Quanto mais expostos a esses fatores, maior o potencial de impacto”, alerta a especialista. Nesse contexto, iniciativas como o Setembro Amarelo, mês dedicado à conscientização e prevenção do suicídio, tornam-se ainda mais relevantes para alertar sobre a importância do cuidado com a saúde mental dos jovens e a necessidade de promover diálogos abertos sobre o tema.
No Brasil, dados da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do Sistema Único de Saúde (SUS) revelam que, entre 2013 e 2023, o número de adolescentes diagnosticados com ansiedade chegou a 282,8 a cada 100 mil, mais que o dobro dos números entre pessoas com mais de 20 anos, que é de 112,5 a cada 100 mil. “Situações como a separação dos pais, a mudança de escola ou cidade, a falta de apoio familiar, bullying e a incapacidade de lidar com frustrações são alguns dos fatores que contribuem para o aumento da ansiedade entre jovens”, explica a médica.
O uso das redes sociais também desempenha um papel crucial. O Brasil é o país com o maior número de consumidores de redes sociais no mundo, com 131,5 milhões de usuários, de acordo com o levantamento Tendências de Social Media 2023. Embora as plataformas ofereçam oportunidades de conexão e informação, elas também têm sido associadas ao aumento de transtornos mentais entre os jovens. Nas redes sociais, padrões inalcançáveis promovem comparações que podem resultar em baixa autoestima, depressão e insegurança, de acordo com a especialista.
Apoio emocional é crucial
Pais, educadores e familiares devem ficar atentos aos sinais de que algo não está bem. Entre os principais sintomas de alerta estão a regressão no desenvolvimento, queda no desempenho escolar, mudanças abruptas de comportamento, dificuldade de relacionamento, alterações no sono e apetite, além de queixas físicas frequentes e uso excessivo de substâncias. “Comportamentos antissociais, agitação, autoagressão e lesões autoprovocadas são indícios claros de que é hora de buscar ajuda”, reforça Livia.
Criar um ambiente acolhedor e seguro, no qual os jovens possam expressar seus sentimentos, é essencial para prevenir que problemas menores evoluam para quadros mais graves. ” A comunicação aberta promove um espaço seguro para que o adolescente possa compartilhar suas angústias e buscar ajuda sem medo de julgamentos “, destaca a psiquiatra. A especialista ainda enfatiza que, ao observar qualquer sinal de sofrimento ou mudança de comportamento significativa, a família deve buscar apoio profissional. “O primeiro passo pode ser uma consulta com um pediatra, hebiatra, psicólogo ou psiquiatra. O tratamento é baseado no quadro clínico e pode incluir ou não o uso de medicação, mas o mais importante é iniciar o acompanhamento adequado o quanto antes”, conclui.