A saúde mental das crianças é um aspecto fundamental para o desenvolvimento, assim como os cuidados com a sua saúde física. Por isso, elas também precisam receber atenção desde cedo para evitar possíveis problemas no futuro, uma vez que assim como os adultos, os pequenos também podem vivenciar situações desafiadoras que trazem medo e insegurança e uma forma eficiente de os preparar para esses cenários é iniciar a descoberta de si, dos sentimentos e, de certa maneira, do mundo, por intermédio de terapias.
Um estudo publicado na revista médica JAMA Pediatrics, em 2022, apresenta um aumento significativo nos casos de crianças diagnosticadas com ansiedade e depressão entre os anos de 2016 e 2020 nos Estados Unidos. Durante esse período, o número de crianças com ansiedade cresceu 29%, enquanto o de depressão aumentou em 27%.
Já no Brasil, pesquisa realizada pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP) indicou que 36% das crianças e adolescentes desenvolveram quadros de ansiedade e depressão durante a fase mais aguda da pandemia da Covid-19. E em muitos casos, esses sintomas persistem até os dias atuais.
Apesar de a pandemia ter destacado ainda mais esse tema, o ideal é que a atenção à saúde mental das crianças seja contínua e integrada à rotina de cuidados, independentemente das circunstâncias externas. Não há uma idade específica para iniciar um acompanhamento psicológico, porém, quanto mais cedo ele ocorrer, melhor.
“Normalmente, os pais costumam procurar a psicoterapia somente quando percebem prejuízos significativos no desenvolvimento, comportamento e interações sociais de seus filhos. Isso reforça a ideia de que o cuidado psicológico deve ser buscado apenas em resposta à problemas aparentes”, afirma Amonick Carolina de Souza, psicóloga do Centro de Referência de Dor Crônica Parque Maria Helena, gerenciado pelo CEJAM em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde da cidade de São Paulo.
Segundo a especialista, a cultura do cuidado preventivo no âmbito mental já não é consolidada entre adultos, e isso é ainda mais notável no contexto das crianças. “Essa é uma fase crucial para buscar acompanhamento psicológico, por diferentes motivos, e um deles é a saúde psicológica dos pais, que acaba exercendo influência direta sobre o bem-estar da criança”, explica.
A criança, assim como um adulto, sente e absorve situações e sentimentos para si. E, diante disso, podem surgir diferentes sintomas que venham a contribuir para seu sofrimento e/ou aumento do risco de desenvolver transtornos psicopatológicos.
“Os indicadores mais evidentes de que algo pode não estar bem com o bebê ou a criança incluem mudanças no padrão de sono, na alimentação, na eliminação e na capacidade de resposta ao contato com outras pessoas, bem como alterações no comportamento”, relata a psicóloga.
Todos esses sintomas geralmente podem ser interpretados pelo adulto como desobediência, birra ou até mesmo pirraça. No entanto, essas manifestações podem ser sinais de que a criança está enfrentando dificuldades emocionais que precisam ser compreendidas e abordadas com sensibilidade e cuidado.
“Costuma-se dizer que os pais são os menos recomendados para ser conselheiros dos filhos, pois acabam tomando a angústia dele e julgam muito mais do que acolhem. Mesmo assim, praticar a escuta, a observação, a presença e a validação de sentimentos dos filhos ainda é um caminho esperançoso a se trilhar quando se ocupa esse papel”, enfatiza a profissional.
Os cuidados com a saúde mental infantil desempenham um papel crucial na formação de adultos saudáveis e resilientes no futuro. Portanto, é essencial que pais e cuidadores estejam dispostos a compreender os sinais de dificuldades emocionais enfrentadas nessa fase da vida, criando um ambiente que promova o bem-estar e a capacidade de enfrentar os desafios.