Com direção de Marina Esteves e dramaturgia de Idylla Silmarovi e Lenise Oliveira, esta também responsável pela atuação, o espetáculo infantil indígena “Pa’ra – rio de memórias”, conflui as memórias de infância da atriz no Jurunas – uma das maiores periferias de Belém (PA) – com a cosmovisão de seu povo, os Sateré-Mawé. A temporada de estreia acontece entre os dias 15 de março e 10 de maio de 2025 no Teatro Anchieta do Sesc Consolação, com sessões todos os sábados, às 11h.

Quando se mudou para São Paulo, em 2021, Lenise precisou lidar com várias formas de violência, como a discriminação social, a desvalorização dos seus saberes e um processo de “aculturação” forçada.
Por isso, “Pa’ra – rio de memórias” faz um resgate ancestral. Na trama, uma criança indígena chamada Dalú é obrigada a deixar o território do seu povo, em Mairi (Belém do Pará), e migrar com a mãe para a periferia de um grande centro urbano, Nhe’e ry (São Paulo). Nesse novo local, elas enfrentam muitos desafios, como o preconceito e a truculência policial.
Quando o pior acontece e a casa das duas é invadida, a menina clama por seus ancestrais e embarca em uma viagem em busca das riquezas do seu povo – tudo ao lado dos seus melhores amigos boldo, alecrim e capim cidreira. Nesse mundo, o rio das memórias, a protagonista escuta os conselhos da natureza, onde os vivos não se distanciam dos encantados e dos seus ensinamentos.
Sobre o espetáculo
“Pa’ra – rio de memórias” está estruturado em três eixos: infância, corpo e territorialidade. Segundo Lenise, o aspecto mais importante da montagem é debater os direitos das crianças indígenas no contexto urbano.
“A educação nas comunidades indígenas, por exemplo, deve ser bilíngue e intercultural, respeitando as tradições e os idiomas nativos. No entanto, o sistema educacional brasileiro, em muitos casos, falha em promover esse tipo de educação. O que resulta em um processo de alienação cultural, em que as crianças indígenas são forçadas a se adaptar a uma cultura dominante. Muitas precisam sair do território para estudar na cidade e enfrentam todo tipo de violência”, comenta a idealizadora.
Para dar conta dessas questões, as artistas fugiram dos estereótipos. Por isso, elementos como penas e pinturas corporais não foram incluídos na encenação.
O espetáculo combina a estética afro-minimalista, presente na pesquisa de Marina Esteves, com a imersão na cultura Sateré-Mawé e paraense, desenvolvida pela atriz e idealizadora Lenise Oliveira. Fugindo das representações coloniais dos povos originários, a direção adota uma paleta vibrante de vermelho, azul e marrom para compor a identidade visual da obra.
Na trama, Dalú embarca em uma jornada lúdica por um mundo imaginário, onde encontra seres que simbolizam figuras importantes para a população indígena, cada um carregando histórias e ensinamentos essenciais. “Partindo do conceito de ressignificação dos objetos, chegamos aos bancos de Pajé, que, ao longo da narrativa, se transformam em animais, guarda-chuvas, cidades e tudo o mais que precisarmos”, explica Marina.
A trilha sonora, criada exclusivamente para a obra, tem assinatura de Dani Nega. A musicista se inspirou nas sonoridades típicas do Pará. Dessa forma, a musicalidade Sateré-Mawé se mistura ao brega e ao techno brega das aparelhagens.
Por todos esses elementos, “Pa’ra – rio de memórias” também converte-se em um espaço de resistência cultural onde as tradições indígenas são celebradas e reimaginadas. Nesse processo, o público é convidado a refletir sobre suas próprias identidades em um mundo que frequentemente tenta apagá-las.
A peça é um desdobramento do projeto “Perspectivas Indígenas em Cena”, que foi contemplado pelo programa Funarte Retomada 2023 – Teatro, e contou com o apoio do Museu das Culturas Indígenas.
Sinopse
“Pa’ra – rio de memórias” conta a trajetória de Dalú: uma menina indígena do povo Sateré-Mawé que é levada a uma viagem no mundo dos ancestrais para retomar as riquezas de seu povo e ajudar a sua família a lidar com conflitos territoriais na cidade grande. Ao se encontrar com encantados e antepassados, a peça convida o público a navegar por esse rio de memórias e dialogar em torno das infâncias indígenas dentro e fora das aldeias.
Pa’ra – rio de memórias
Temporada: De 15/3 a 10/5. Sábados, 11h. Dia 1/5. Quinta, 11h.
Teatro Anchieta – Sesc Consolação (280 lugares)
Rua Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque. São Paulo – SP
Telefone: (11) 3234-3000
Na rede: /sescconsolacao – Site: sescsp.org.br/consolacao
Horário de funcionamento: Terça a sexta: das 10h às 21h30. Sábados: das 10h às 20h. Domingos e Feriados: das 10h às 18h.
Ingressos: R$40,00 (inteira), R$20,00 (meia-entrada), R$12,00 (credencial plena). Crianças até 12 anos não pagam.
Venda on-line: em centralrelacionamento.sescsp.org.br e no app Credencial
Venda presencial: na bilheteria de qualquer unidade do Sesc SP
Duração: 50 minutos | Classificação: Livre
Acessibilidade: teatro acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida