Considerada uma das prioridades pelo Ministério da Saúde, o incentivo à amamentação materna vem apresentando resultados em termos de estatística no país. Segundo uma avaliação dos índices do aleitamento materno dos últimos 34 anos, entre 1986 e 2020, houve um aumento de cerca de 1,2% ao ano na amamentação exclusiva de crianças de até seis meses de idade.
O alimento, considerado completo pelos especialistas e recomendado pela entidade, pode reduzir em até 13% a morte de crianças até os 5 anos de idade por causas preveníveis.
“O leite materno é a primeira vacina do bebê, devido aos seus fatores imunológicos e nutrientes que suprem todas as necessidades da criança e, ainda, protege contra diversas infecções”, explica Dr. Hamilton Robledo, pediatra da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.
O médico, que também integra o Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria São Paulo (SPSP), reforça a importância de campanhas de conscientização sobre os benefícios da prática.
“O leite materno é tão importante que a ONU e a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), apoiadas pela Sociedade Brasileira de Pediatria, recomendam iniciar a amamentação nos primeiros 60 minutos de vida, como forma exclusiva de alimentação até 6 meses de idade e de maneira complementar, quando possível, até os 2 anos de idade”, destaca.
O especialista explica que, para situações em que a amamentação não é possível, pode ser recomendado o uso de fórmulas infantis. No entanto, vale reforçar que essas composições, embora tenham sido desenvolvidas para serem semelhantes ao leite materno, não podem ser comparadas ao levar em conta todos os seus benefícios.
De acordo com a nutricionista Maria das Dores Mota da Rede de Hospitais São Camilo de SP, para o preparo da fórmula, a indústria utiliza geralmente leite de vaca ou de cabra, acrescenta nutrientes, e altera sua composição tendo como modelo o leite humano.
“São modificados componentes nutricionais como, por exemplo, o teor de proteína, ferro, vitaminas e minerais fundamentais para o desenvolvimento do bebê, no entanto não substitui o valor do leite humano, considerado o padrão ouro de alimentação”, frisa.
Ela explica que, apesar de serem parecidos na composição dos lipídios, a absorção de gordura do leite materno é maior à absorvida pelos bebês alimentados com fórmulas infantis, uma vez que a estrutura de triacilgliceróis é diferente e mais adequada à alimentação humana.
Além disso, a nutricionista destaca que o leite humano tem níveis maiores de ácido docosahexaenóico (DHA), elemento crucial na formação e desenvolvimento do cérebro, e a quantidade de proteína se adequa à velocidade do crescimento do bebê, variando ao longo dos meses.
Outro ponto fundamental tem relação aos anticorpos fornecidos pela mãe na amamentação. Ela explica que o leite materno é rico em IgA secretória, componente que atua contra microorganismos presentes nas superfícies mucosas, além de outras substâncias como IgM e IgG, macrófagos, neutrófilos, linfócitos B e T, lactoferrina, lisosima e fator bífido.
“Este último favorece o crescimento do Lactobacilus bifidus, uma bactéria não patogênica que acidifica as fezes, dificultando a instalação de bactérias que causam diarreia, tais como Shigella, Salmonella e Escherichia coli.”
Entre todas essas vantagens, Maria das Dores reforça que, apesar da evolução das fórmulas infantis, o leite materno continua sendo a primeira opção para a nutrição de recém-nascidos e lactentes e deve ser priorizado sempre que possível.
Ambos os especialistas da Rede de Hospitais São Camilo SP defendem a amamentação como principal meio para favorecer o desenvolvimento dos ossos e dos músculos da face, facilitando o desenvolvimento da fala, regulando a respiração e prevenindo problemas na dentição.
“Vale destacar que o ato de amamentar contribui para o fortalecimento do vínculo afetivo entre a mãe e o bebê”, finaliza o pediatra.