Inovações colocadas em prática por instituições de vários países trazem novas perspectivas para reformular as salas de aula. Antes das primeiras escolas, crianças e adultos conviviam todo o tempo. Os ofícios eram passados de pai para filho. O ferreiro ensinava o filho a forjar, a tecelã ensinava a filha a tecer. Esse modelo não diferenciava muito a infância e trazia no seu âmago a desigualdade. Como fazer se o filho do camponês quisesse ser ferreiro? A sociedade era rígida em sua divisão. Por volta do ano 4000 a.C., os sumérios ensinavam, em casa, seus filhos a escrever, segundo alguns registros.
Depois disso, a História conta que Platão, em Atenas, nos jardins de Academo — de onde surge o termo “academia” — ensinava seus discípulos numa espécie de escola, onde, por meio de questionamentos, se estudava matemática e filosofia.
A palavra “escola” vem do grego scholé e significa “lugar do ócio”. Essa era a ideia dessas primeiras escolas. Eram lugares onde as pessoas iam, no seu tempo livre, para discutir e aprender. Surgiram na sequência os preceptores, contratados por famílias ricas da Grécia, para ensinar seus filhos. Assim foi Aristóteles com Alexandre, o Grande.
A educadora, psicopedagoga e especialista em neurociência Kátia Chedid comenta que, hoje, encontramos uma gama de escolas que vão do ensino tradicional, com exigência extrema, visando resultados, a escolas com propostas muito alternativas. As linhas teóricas e os métodos de aprendizagem trabalhados nas faculdades de pedagogia embasam a prática educacional na atualidade. Algumas frentes contrárias questionam essa ou aquela prática, mas, basicamente, tanto a formação como a prática do professor estão baseadas nos teóricos conhecidos dos pedagogos, como Jean Piaget, Lev Vygotsky e Henri Wallon, apenas para citar alguns.
Demandas do Século XXI, encontramos em escolas pelo mundo salas de aula com disposição alternativa de mesas e cadeiras, espaços com computadores e lugares para trabalho individual e coletivo. Desenhos de espaços diferentes são cada vez mais comuns. “No entanto, as mudanças demandadas pela educação não se resumem à infraestrutura nem à incorporação de novas tecnologias em sala. Envolvem reinvenção de estratégias. Alguns exemplos de escolas que propõem mudanças de paradigmas começam a aparecer.” diz Kátia Chedid.
A ideia de “aprender a aprender”, em que independência e autonomia de aprendizagem são mais importantes do que o conteúdo, aparece, por exemplo, na Escola da Ponte, em Portugal, que trabalha com processos coletivos de aprendizagem. Outras escolas apostam nos jogos como estratégias de aprendizado, como a Quest to Learn, em Nova York, que usa games para ensinar conteúdos.
“Eu queria criar uma escola em que as crianças entrassem dizendo ‘Eu amo vir aqui’”, diz o fundador da Ron Clark Academy, uma escola na Geórgia que trabalha com o conceito de “mídia-educador” — a pedagoga Kátia Chedid fala que o professor deve se apropriar dos recursos presentes na vida dos jovens, como tecnologia e as mais variadas artes, e incorporá-los às aulas. Propostas que envolvem tecnologia com ambientes virtuais de aprendizagem, videoaulas, sala de aula invertida e ensino híbrido, entre outras, aliás, estão cada vez mais presentes na rotina do estudante deste século.
Mas o que a neurociência tem a dizer sobre tudo isso? Apenas no final do século XX começamos a entender melhor como o cérebro funciona e os processos envolvidos na absorção de novas informações. Alguns estudos da neurociência corroboram os conceitos dos já mencionados Piaget, Vygotsky, Wallon e outros pensadores que influenciaram a pedagogia e dos quais nunca devemos abrir mão — achados neurocientíficos reforçam muito do que eles escreveram e pensavam.
Em contrapartida, a ciência também tem sido útil para invalidar algumas práticas. Dois exemplos comuns: a pressão excessiva do professor por resultados e o clima de estresse constante. “Sabemos que, exposto ao estresse diário, o córtex pré-frontal — área relacionada, entre outras funções, ao planejamento e à tomada de decisões — pode ‘paralisar’, levando o aluno à confusão mental e não raro ao pânico — o famoso ‘branco’ na hora de uma prova…” ressalta a especialista em neurociência.
“A educação recebe as novidades neurocientíficas com curiosidade e receio. Poucas faculdades de educação colocam em seu currículo aulas de neurociência, embora todos saibam que o cérebro é o ‘motor’ da aprendizagem. Continuamos agindo na educação como um mecânico que trabalha com o carro e ignora o que acontece com o motor — muitas vezes não sabe nada sobre os mecanismos básicos dessa peça…” finaliza Kátia Chedid.