Depois de estrear em circulação pelos cinco teatros da Prefeitura, em janeiro, e participar do Festival de Curitiba, no começo de abril, Momo e o Senhor do Tempo engata nova temporada em São Paulo. Dias 14, 15, 21 e 22 de maio, no Teatro João Caetano. Adaptação teatral do livro O Senhor do Tempo, de Michael Ende, Momo e o Senhor do Tempo segue a ideia de dialogar com crianças e adultos, predominantemente por meio do humor, com tiradas inteligentes e montagens exigentes em termos de cenários, figurino, luz e música. A estreia aconteceu no Teatro Alfredo Mesquita em janeiro deste ano e passou pelo Teatro João Caetano, no Teatro Cacilda Becker, Teatro Arthur Azevedo e Teatro Paulo Eiró. Sempre com entrada franca.
Com cenário de André Cortez, iluminação de Wagner Freire, figurino de Chris Aizner, vídeo mapping de André Grynwask e direção de produção de Rodrigo Matheus, Momo tem o elenco formado pelos atores Camila Cohen, Eric Oliveira, Ernani Sanchez, Fabrício Licursi e Victor Mendes, todos de forte tendência corporal e com grande experiência e relevância no cenário teatral brasileiro. Em 25 anos de trajetória artística, Carla construiu uma reputação que lhe garante um lugar de prestígio nesse cenário e também lhe cobra a responsabilidade de estar sempre se superando. A diretora sabe que, quando uma criança percebe seu pai ou mãe se divertindo numa atividade junto com ela, isso cria uma cumplicidade importante na relação familiar. E os aproxima.
Homens de Cinza e sua missão de roubar o tempo das pessoas
Escrita a seis mãos, por Carla Candiotto, Victor Mendes e Aline Moreno, a adaptação retrata a importância do tempo na vida das pessoas e a melhor forma de aproveitá-lo. A menina Momo (Camila Cohen) aparece misteriosamente em uma cidade e vai morar nas ruínas de um antigo teatro abandonado. Lá, onde as crianças desaprenderam de brincar, pouco a pouco ela as ensina a redescobrir esse prazer. Com empatia e atenção, ouve as pessoas, valoriza a relação entre os amigos, os encontros e as ideias diferentes.
Tudo parece fazer sentido até que um acontecimento inesperado tira o sossego de todos. Os Homens de Cinzas surgem com a finalidade clara de comprar o tempo das pessoas. O tempo para a brincadeira, o tempo para conversar com os amigos, o tempo de olhar as formigas, ou passear, é roubado e trocado por uma moeda que deixará todos tristes. A missão dos Homens de Cinza é convencer as pessoas de que elas devem “economizar” seu tempo, entregando-o a eles. Na real, eles sugam e estocam o tempo do povo com a desculpa de ajudar a poupar mais. Momo e seus amigos precisam agir rapidamente. Precisam de um plano para enfrentar o inimigo e recuperar o “tempo perdido” de todos.
Há um prólogo na peça. Amigo da Momo, Beppo (Victor Mendes) anda de bicicleta e se questiona: “Como inventar uma história? De onde vem as histórias? Quando elas precisam nascer? Para que precisamos dela?” Ele está procurando uma história para viver. Está precisando de uma. Dizem que as histórias te escolhem, dizem que elas são tão poderosas que você não consegue mudá-las, uma vez que elas existem.
“A história é sobre uma menina heroína, é sobre amizade, carinho e o respeito entre os cidadãos de uma pequena vila. Beppo e Gigi são os amigos guardiões de Momo, a escolhida pelo senhor do tempo para devolver o tempo das pessoas no mundo”, resume Carla Candiotto.
Durante a quarentena da pandemia, Carla atuou em O Despertar, de Dario Fo, com direção de Neyde Veneziano, e dirigiu outras três peças (entre eles, O Gabinete de Curiosidades), além do projeto Quarentena de Histórias, com a companhia de teatro da Prefeitura de Jundiaí. Nesse tempo houve duas tentativas de ensaiar Momo – a primeira no começo da crise sanitária, início de março de 2020, e a segunda em 2021. Também em 2021, Candiotto dirigiu as apresentações do projeto musical Concertos na Serra, de forma presencial, em Jundiaí.
Adaptação instiga reflexão sobre o tempo
A ideia de adaptar Momo e o Senhor do Tempo, de Michael Ende, para um espetáculo teatral infanto-juvenil surgiu da necessidade de discutir e refletir com crianças, jovens e seus familiares sobre o significado do tempo, atualmente. “Vivemos em uma época em que as pessoas vêm se esquecendo do que importa e têm se distanciado cada vez mais delas mesmas e de suas pessoas queridas”, comenta Carla, Prêmio Governador do Estado, em 2015, pelo conjunto da sua obra.
Muitas crianças já não sabem mais brincar, porque seus pais não têm mais tempo para lhes ensinar e as largam em frente da TV, do computador e celular. “Encontramos nesta obra visionária, ganhadora do Prêmio de Literatura Juvenil alemã e do Prêmio Europeu de Livros para a Juventude, uma história de aventura sobre uma criança que, por ser corajosa e confiar em si mesma, conseguiu recuperar o tempo de sua cidade, para se divertir e imaginar coisas”, diz a encenadora.