Em tempos de excesso de estímulos e rotinas agitadas, é cada vez mais comum que os pais notem comportamentos diferentes nos filhos. Agitação excessiva, dificuldade de concentração e até uma certa falta de foco são sinais que, muitas vezes, estão relacionados à rotina da criança.
Segundo o neurocirurgião André Ceballos, especialista no desenvolvimento infantil, a chave está no equilíbrio. “As crianças de hoje vivem em um mundo de estímulos constantes – mas, paradoxalmente, o que falta é o tempo para brincar, explorar e interagir de forma saudável. Isso é importante para o desenvolvimento emocional e cognitivo delas. Por exemplo, aquela maratona de desenhos animados ou vídeos no celular pode parecer inofensiva, mas substituem brincadeiras que estimulam a criatividade, a socialização e até mesmo a coordenação motora. Não é sobre proibir, mas sobre equilibrar. Uma tarde brincando de pega-pega no quintal vale ouro!”, afirma.
Mais do que as telas: o que realmente está afetando seu filho?
Embora as telas sejam um dos maiores vilões, outros fatores também impactam diretamente o comportamento e desenvolvimento das crianças. Confira os principais:
Falta de atividades físicas: Segundo o especialista, o movimento corporal é fundamental para o desenvolvimento da coordenação motora, do equilíbrio e da saúde emocional. Quando as crianças ficam muito tempo em ambientes fechados ou em atividades que não exigem esforço físico, elas perdem oportunidades de socializar, se divertir e liberar energia. Além disso, o sedentarismo contribui para o aumento da obesidade infantil e para a dificuldade de concentração nas tarefas diárias.
Alimentação desbalanceada: Alimentos ultraprocessados, cheios de açúcares, conservantes e gorduras trans, têm um impacto negativo não só na saúde física das crianças, mas também no seu comportamento. “Uma alimentação desequilibrada pode afetar o humor, a disposição e a capacidade de concentração da criança. Alimentos como refrigerantes, biscoitos recheados e fast food, ao invés de nutrir, sobrecarregam o organismo, gerando picos de energia seguidos de quedas bruscas, o que pode deixar a criança irritada e distraída”, alerta o especialista.
Sobrecarga de obrigações escolares e falta de descanso: A sobrecarga de tarefas escolares e a falta de tempo para brincar ou relaxar também podem levar ao estresse infantil. Segundo o especialista, quando a criança se vê constantemente sobrecarregada com lições, provas e responsabilidades, sem o devido tempo de descanso e lazer, o cérebro se cansa e perde a capacidade de se concentrar. “A ansiedade e a frustração podem aumentar, afetando o comportamento e a capacidade de aprender”, explica Ceballos.
E falta de interação social e de tempo de qualidade com os pais: Outro vilão invisível no desenvolvimento infantil destacado pelo médico é a falta de interação social saudável e o distanciamento dos pais. “A convivência com os colegas de escola, amigos e familiares é importante para o desenvolvimento emocional e social das crianças. Quando elas não têm oportunidades de interagir de forma espontânea, acabam se sentindo isoladas ou com dificuldades para lidar com emoções e com a construção de vínculos afetivos saudáveis. Além disso, a presença ativa dos pais, mesmo em momentos simples como um jantar em família ou uma conversa antes de dormir, tem um impacto na autoestima e no bem-estar das crianças”, ressalta o neurocirurgião.
Mas é possível mudar esses hábitos? Como dar os primeiros passos?
De acordo com o especialista, a chave para a mudança está em criar um equilíbrio entre diversão, aprendizado e descanso, sem esperar resultados imediatos. “Comece aos poucos e observe as mudanças no comportamento dele. Pequenos ajustes fazem uma grande diferença no desenvolvimento”, reforça.
O importante é lembrar que, mais do que corrigir hábitos, é necessário criar um ambiente que favoreça o crescimento saudável da criança, tanto física quanto emocionalmente. Estabelecer uma rotina que inclua atividades ao ar livre, momentos de lazer em família e uma alimentação balanceada são passos importantes para melhorar o comportamento e o bem-estar. “Criar horários regulares para refeições, lazer, estudos e atividades físicas ajudam e proporcionam segurança e estabilidade. Aos poucos, essas mudanças irão promover uma infância mais saudável, onde a criança tem tempo para descansar, brincar e se desenvolver de forma integral”, conclui.