A obra Giraflor realiza uma união autêntica de arte visual e literatura: a escritora Heloisa Pires Lima inspirou-se em dez telas do pintor mineiro Gildásio Jardim para criar dez contos. Carregados de prosa poética, eles ora transportam o leitor para mundos de encantamento, carregados de metáforas e cheios de fantasia e simbolismo, ora ressignificam objetos ou situações simples do cotidiano.
A arte de Gildásio está enraizada na realidade do Vale do Jequitinhonha, onde vive, mas dialoga com a memória afetiva de pessoas em qualquer parte do planeta. Suas telas usam tecidos coloridos como a chita para destacar personagens e cenas da cultura popular brasileira. Giraflor e outros jequitinhonhas é o livro que surge dessas pinturas, em contos que retratam os diversos “jequitinhonhas”, os microcosmos ao mesmo tempo particulares e universais que habitam a região.
A página de rosto informa ao leitor que se trata de um livro de Gildásio ilustrado com textos de Heloisa. Ou seja, ao contrário do que ocorre em outras criações literárias, nesta obra a ilustração precede o texto escrito, inspirando-o. A arte visual é protagonista do livro e assume papel fundamental em toda a trajetória narrativa.
Há as histórias contadas por Gildásio, que se revelam em cores, texturas, estampas, personagens e cenas da cultura popular, registro de sua infância numa comunidade rural no Vale do Jequitinhonha; e há as histórias contadas por Heloisa, que contemplou essas imagens tão cheias de vida e alegria e criou narrativas inspiradas.
A cada imagem dessa trajetória artística é possível extrair uma nova sensação; em cada conto, um novo significado, seja acionando a imaginação, seja revelando as lembranças guardadas na memória ou vendo a si mesmo nas histórias como se olhasse no espelho (em dado momento, literalmente). O pano de fundo é sempre a realidade do Jequitinhonha, a aldeia em que o universal se revela.
Sobre o ilustrador
Gildásio Jardimnasceu em Joaíma (MG), no Vale do Jequitinhonha, em 1981. Começou a desenhar por volta dos sete anos, nas estradas de terra, na areia e nos cadernos do pai. Quando teve acesso à tinta, aos treze anos, fez seus primeiros quadros, já morando na zona rural, na comunidade Abelha Brava, em Padre Paraíso (MG). Suas primeiras pinturas foram feitas em cartolina, com tinta guache.
Quando cursou Geografia na Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), em Joaíma, foi muito influenciado a pintar temas ligados ao curso. Passou a observar sua própria cultura e iniciou uma série de quadros sobre as vivências culturais no Vale do Jequitinhonha. Então, começou a fazer telas com estampas de tecido, lembrando-se das roupas das pessoas na sua infância, quando a mãe era costureira na comunidade rural. De cada estampa, ele tenta (re)criar um personagem ou vivência da cultura popular.
Gildásio já realizou mais de mil criações de pinturas com uma técnica que ele mesmo desenvolveu, confeccionando as telas com madeira e tecidos estampados, como tricoline, chita e brim. Com tinta acrílica, tinta para tecido, tinta látex e corante líquido, pinta cenas cotidianas em 3-D, procurando fundir os personagens do seu universo e as cores que eles trazem nas vestimentas.
Sobre a escritora
Heloisa Pires Limanasceu em Porto Alegre (RS), em “uma família negra andante entre fronteiras pampas e serras sulinas”. Aos nove anos, mudou-se para São Paulo, onde reside até hoje. Formada em Psicologia e doutora em Antropologia, é autora de diversos livros para crianças e jovens, entre os quais Histórias da Preta (1998), ilustrado por Laurabeatriz, que recebeu os prêmios José Cabassa e Adolfo Aizen, da União Brasileira dos Escritores (UBE), e o selo Altamente Recomendável da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), além de ter sido selecionado para divulgação na Feira de Bolonha. Pela FTD, publicou Benjamin, o filho da felicidade (2007).
Também é educadora, editora e pesquisadora. É uma das autoras do volume De olho na cultura: pontos de vista afro-brasileiros (2005), obra vencedora do I Concurso Nacional de Produção de Livros e Vídeos Sobre História, Cultura e Literatura Afro-Brasileiras, modalidade Livros, na categoria Cultura Afro-Brasileira.
Heloisa conta que, ao ver as pinturas de Gildásio Jardim pela primeira vez, ficou “enlevada pela mescla de magia e realismo no registro das cenas”. “Está ali o território do Jequitinhonha, marcado pela ancestralidade africana”, conta a escritora negra.
Título: Giraflor e outros jequitinhonhas
Autores: Gildásio Jardim e Heloisa Pires Lima
Páginas: 48
Formato: 20,5 cm × 26 cm
Acabamento: brochura
ISBN: 9788596042390
Preço: R$ 70Editora: FTD